terça-feira, 6 de julho de 2010

Suicide

Cá em cima, no topo de tudo, consigo ver tudo, tudo se estende à minha frente e tudo o meu olhar alcança.
Adiante, as montanhas, a floresta, o mar.
Tudo o resto se mostra insignificante.
Fútil.
O vento chama-me e acaricia-me a face.
Quer que sejamos um, um único corpo, como devíamos ter sido desde o início.
Fecho os olhos.
Deixo-o sussurrar-me ao ouvido promessas de uma vida melhor, uma vida diferente.
Um final para tudo.
De repente, o precipício à minha frente nunca foi tão convidativo.
Sei-o. Sinto-o. Em mim, nas minhas entranhas.
Dou tímidos passos face ao desconhecido.
Face ao real, para o qual fui chamado, para o qual nasci.
As pequenas pedras sob os meus pés precipitam-se para o meu destino.
O vento dá-me a certeza que preciso, ele que sempre esteve lá para mim.
Respiro fundo. Deixo o meu corpo morto deixando apenas o meu instinto falar.
Tudo agora parece mais rápido, soluçante.
Pela primeira vez na vida vejo tudo à minha volta a passar a passar por mim. Vejo tudo. As cores. A vida que constitui tudo.
Sinto tudo passar-me pelo peito, pelos braços, pelas pernas.
Sinto o sangue a bombear pelas veias de forma desesperada.
Pela primeira vez na vida sinto-me vivo.
Sinto-me um com tudo.
Sinto todas as minhas memórias a queimar-me os olhos.
Sempre com o vento a acariciar-me, a sussurar: Está tudo bem, não tenhas medo.
Não há arrependimentos.
Nunca valeram a pena.
Decidido, fecho os olhos.
Apenas para me bater. Forte e seco.
O silêncio.

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